Uma reportagem publicada na
renomada revista Nature, escrita pelo jornalista americano Jeff Tollefson,
denuncia as articulações da “coalizão conservadora que domina o Congresso
brasileiro” para acabar com importantes regulamentações ambientais antes do
início oficial das campanhas para as eleições de outubro.
Segundo a reportagem, uma das
principais alterações seria a permissão do plantio de cana-de-açúcar dentro da
Amazônia Legal. A possibilidade de plantio nessas áreas havia sido extinta por
um decreto de 2009, que estabeleceu o zoneamento agroecológico da
cana-de-açúcar. O projeto, que busca mudar as regras do zoneamento, tramita
desde 2011 no Senado, já passou por cinco comissões, e aguarda votação.
Outra ameaça à legislação
ambiental é a que muda as regras do licenciamento para infraestrutura, como
barragens, estradas e o agronegócio. Conforme a GALILEU já publicou em junho de
2017, a proposta praticamente acabaria com todo o processo, e pode fazer com
que desastres como Mariana sejam cada vez mais comuns.
De acordo com a ecóloga da
Universidade de Brasília, Mercedes Bustamante, um equilíbrio muito delicado é o
que impede que esses projetos ainda não tenham saído do papel.
Apesar dos conservadores,
encabeçados pela bancada ruralista, contarem com o apoio do presidente em
exercício Michel Temer, e contarem com um time suficientemente grande para
aprovar esses projetos, a latente oposição da opinião pública os deixa
receosos, já que estamos em ano eleitoral. “Embora os legisladores estejam
tentando avançar, eles também estão receosos em provocar uma reação pública
antes da próxima eleição”, diz Bustamante.
Assim, a única forma de conservar
a já frágil proteção ao meio ambiente no país, é a pressão pública. O texto do
periódico científico lembra a tentativa recente do governo em reduzir as áreas
protegidas e os direitos indígenas na floresta amazônica, barrada após grupos
de ativistas mobilizarem a opinião pública.
Segundo o jornalista, as
políticas ambientais tiveram muito mais apoio durante o governo Lula entre 2003
e 2011. Apesar das recorrentes críticas dos ativistas à política para o meio
ambiente da época, o Brasil era visto como um líder global em questões
ambientais, em grande parte devido ao seu sucesso em conter o desmatamento.
“Entre 2004 e 2012, a quantidade anual de floresta tropical que foi desmatada
para a agricultura caiu quase 84%, para 4.571 quilômetros quadrados”, diz a
reportagem.
O bom momento, porém, ficou para
trás. Em 2016, foram 7.893 quilômetros quadrados de floresta desmatados para a
agropecuária. Em 2017, voltou a cair 16%, para 6.624 quilômetros quadrados, mas
graças à menor demanda por carne bovina e à restauração do financiamento para a
aplicação da lei, que havia sido cortado durante uma prolongada crise
financeira.
Ainda é praticamente impossível
definir todos os candidatos que concorrerão à presidência do Brasil, muito
menos indicar um vencedor, principalmente depois da prisão do líder das
pesquisas eleitorais, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e a
indefinição sobre sua participação ou não no pleito.
Mas uma coisa é certa. De acordo
com o pesquisador do Instituto de Pessoas e Meio Ambiente da Amazônia, Paulo
Barreto, o que não deve mudar é a dinâmica política no Congresso: “A coalizão
conservadora é forte e elas permanecerão no poder”.
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